Acho que na verdade é dela esse meu amor.
"Te conheci menina. Minha meninice estava no sorriso, na simplicidade, na doçura de ver a vida. Tudo pra mim era doce. O amor, os corações, os futuros. Eu era uma menina forte, mas ainda menina. Eu acreditava no melhor das pessoas, no girar do universo que faz cada pedacinho se acertar no tempo certo. Eu vivia na simplicidade dos clichês, eu esperava por almas gêmeas, eu era simples.
Eu amei você com meu amor de menina. Eu achei minha alma gêmea e respirei fundo, eu agradeci aos céus pela minha sorte. Sou uma menina simples, não ligo pra dinheiro, status, pose de capa de revista. Eu ligo pro riso fácil e pros olhos que se conectam e se entendem. Eu ligo pras madrugadas que passam sem a gente sentir, porque o tempo é tão bom que voa demais. Eu ligo pra química e pro calor do seu corpo no meu. Eu ligo pra inteligência, pra gente que quer entender o que, meu Deus do céu, estamos fazendo neste mundo.
Eu achei tudo isso em você, eu era tão confiante. Andava com você pelo mundo com a certeza de que éramos nós. Eu não sei porque o mundo existe, porque a gente nasce e morre, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu e você. Era tão fácil, tão natural como respirar.
Então você foi embora e levou minha meninice. Eu não acredito mais nas rosas, nas cores, nos mundos. Eu acho tudo tão injusto, porque eu era uma boa menina, eu só pensava em fazer todo mundo feliz, e todo-mundo, senhor mundo, me fez infeliz demais. Eu tenho feias cicatrizes, eu anoiteci. Eu não sei mais brincar, minha face é séria, meu único riso é sarcástico. Eu perdi a minha fé, porque aquilo que eu mais acreditava e que mais fazia sentido em todo o mundo, morreu. Eu não digo mais que vai dar certo no final, porque eu não sei. Talvez eu nunca seja feliz, talvez você nunca volte dizendo que sempre me amou e talvez eu nunca encontre alguém. Eu odeio clichês, eles doem meus ouvidos, eles me fazem odiar as pessoas com suas pequenas certezas e suas pequenas felicidades. Eu simplesmente não acredito mais, não há nada no mundo que me faça acreditar.
Eu não soube crescer, você me cortou pela raiz. Eu tentei adubar, podar, mas a terra secou. Sem esperança, o que pode dar? Sou uma velha ressequida e, mais do que de você, sinto falta da minha menina, da menina que tanto te amou e que você não quis."