Meu orientador de mestrado pesquisa dois aspectos bem emblemáticos da sociedade contemporânea: o imperativo da felicidade e o culto da performance. Devemos ser indivíduos cronicamente felizes, presos na tirania da positividade. Tristeza e raiva são duas emoções altamente condenáveis em um mundo de pecinhas coloridas que se encaixam perfeitamente, basta pensar positivo. No individualismo da autorrealização, em que cada indivíduo está imerso em uma busca de ser sempre mais, tornando-se aquilo para que foi feito para ser ao realizar-se a si mesmo, não há tempo e espaço para lamúrias e reclamações de outrem. Não há vez para os tímidos, que não sabem gerenciar as emoções e influenciar pessoas, deixam as faces ruborizarem e a voz falhar, contrariando todos os manuais de autoajuda corporativa. Nesse mundo se sofre sozinho, e não se admite nem para si mesmo.
Eu vivo nesse mundo, e achei que podia sobreviver a ele. Séria, tímida, idealista, facilmente irritável, melancólica. Puro engano. Esse conjunto de características é como um estigma que afasta as pessoas, uma lepra social que não deixa marcas na pele, mas de algum modo se deixa ver.
Pouco importa se sou sarcástica e criativa, rio e faço rir das minhas pequenas desgraças. Ou se me afeto tanto que não só sofro e brigo, mas cuido e amo com mais intensidade. Amo no mais ínfimo detalhe. Coisa de gente que se importa.
Mas não sou pura diversão e leveza, confesso que não. É bom me ter por perto, mas é preciso uma disposição pra parar de vez em quando e ficar quietinho, sentindo uma tristeza existencial que vem lá de não sei de onde, mas de vez em quando encontra os problemas e aparece na superfície. É preciso tolerar as pequenas raivas de quem passou muito tempo não podendo odiar, porque não era certo, porque não era digno. E hoje se permite apenas sentir a verdade, pra que mentir pra si mesmo?
Ninguém gosta de ouvir uma história ruim. Mas eu gosto de vivê-la e, de vez em quando, contá-la em palavras.