domingo, 22 de abril de 2012

"Você está anos-luz à frente dele, Tati."
Milhares de amigos me disseram isso milhares de vezes. Até fazia sentido, mas ainda era uma coisa meio contraditória para mim. Até eu ver isso materializado em algo que eu conheço bem, o meio de expressão da minha subjetividade desde criança, o meu objeto de trabalho, o meu espaço de construção de identidade neste mundo: um texto. Não foi um texto dele, foi da nova namorada. E ler aquele amontoado de clichês em um fragmento sem coerência, com erros de concordância, me fez rir e me fez entender, séculos depois, o que não entendi na época: ele precisa de alguém pior do que ele.

Eu tenho um quê de professora em mim,  tenho imensa satisfação em ajudar alguém a crescer. E assim, eu assisti à transformação de algum idiota que nunca prestou atenção à aula na escola para alguém que de repente queria aprender tudo, ler livros, entender e pensar a sociedade. Não só assisti. Eu impulsionei essa transformação, talvez até a tenha causado. Eu mostrei caminhos, eu estava ali pronta a dar uma estrelinha de parabéns a cada pequeno aprendizado.

Eu estava feliz assim. É estimulante ver um aluno crescer. Mas, a professora tinha se tornado muito grande para ele. Ele precisava se sentir maior. Mas aí eu penso: por que procurar alguém menos inteligente? Não faz sentido. Quanto mais eu aprendo, estudo e cresço, mais eu quero alguém mais inteligente, que me acrescente mais.

E lendo Bauman, eu percebi que enquanto o aluno se afundou na mediocridade de querer ser grande dentro de uma localidade, a professora cresceu e se globalizou. Aquele mundinho e suas relações de poder ficaram pequenas para ela. Ao invés de se sentir inferior, por não ter encontrado ali seus pares, ela percebeu que não encontraria mesmo, pois sua existência é muito maior, não cabe ali. Aquele mundinho se tornou insuficiente na produção de significados.

E eu ri, porque eu escrevo melhor, eu penso mais profundamente, eu articulo mais ideias, eu questiono mais. Para cada um nessa vida importam coisas diferentes. Não digo que ela é necessariamente pior do que eu por causa disso, com certeza tem muitas outras qualidades, físicas e emocionais, que importam mais para outras pessoas. Mas se o que importa neste mundo é a minha visão e o meu desejo, para mim, ela é pior do que eu. Porque dentro do que eu procuro em alguém, eu tenho muito mais do que ela. E se ele prefere ela, dentro da minha visão - a que importa - eu também tenho muito mais do que ele.

É uma característica minha racionalizar tudo o que vivo e o que já passou. Assim, cada vez mais tenho clareza do meu desejo e do que quero do meu presente e do meu futuro. E o sentimento de hoje é: eu amo ser assim. E eu amo escrever. Eu amo que seja com as palavras o meu dom neste mundo.

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