O shopping no dia 11 de junho estava diferente. Havia homens por toda parte. Homens em grupo, sozinhos, espalhados por lojas de mulher, confusos com tamanhos e modelos, amparados por vendedoras interesseiramente simpáticas e solícitas. Em busca do presente perfeito, ou nem tanto assim, para o Dia dos Namorados.
Na bancada de bijouterias, um adolescente comprava um brinco. Atrapalhado, juntando notas de dinheiro, escolheu um que numa orelha formava um "lo", e na outra um "ve". O brinco mais feio que eu já vi. Mas minha intuição diz que a namorada abrirá um sorriso e se sentirá a menina mais sortuda do mundo. Porque aquele menino, que não entende nada sobre tendências da moda (e, me arrisco a dizer, sobre mulheres como um todo), escolheu um presente que expressasse algo que ele conhece, por causa dela. Tudo é novo e muito ele ainda não entende sobre esse sentimento. Metáforas não servem, ele precisa da palavra pura e simples. Love.
O amor adolescente é brega, exagerado e, na maioria das vezes, finito. Mas sempre vai me comover.
terça-feira, 12 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
"No meu ponto de vista (e por experiência), estar "fora de lugar", ao menos em parte do nosso ser, não concordar completamente, manifestar divergência e dissensão, é o único meio de resguardarmos nossa autonomia e liberdade. Estar "dentro" mas parcialmente "fora" é também um meio de preservar o frescor, a inocência e a abençoada ingenuidade de visão. Quem está assim situado tende a fazer perguntas que não ocorreriam àqueles estabelecidos mais solidamente; tende a notar o estranho no familiar, o anormal no óbvio."
Zygmunt Bauman
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Dia desses, O Globo Online publicou uma lista com 20 estranhos motivos para se pedir demissão. Trabalhar no circo, aprender a tocar trombone, plantar maçãs e dificuldade para acordar cedo (achei digno) estavam na lista. No mínimo pouco convencional, ela me fez pensar em algo que venho pensando diariamente, com meus botões ou com meus amigos, em e-mails e almoços, os poucos respiros que temos dentro da prisão das oito horas diárias: não somos obrigados a nada.
A sociedade de controle, apelidinho querido para a nossa sociedade insana (quer dizer, um conceito do filósofo francês Gilles Deleuze), é regida pela lógica da empresa. Vivemos os tempos do empreendedorismo. Falamos em investimentos o tempo todo: investimos em filhos, investimos em nós mesmos, investimos em relacionamentos, e ficamos chateados quando esses investimentos não dão o lucro esperado e perdemos tempo, a moeda corrente da sociedade de controle. A empresa está em nós 24 horas, trabalhamos em casa, pensamos na empresa até dormindo, somos a empresa nas redes sociais, ela está na construção da nossa identidade, em nossas relações. Não mais o corpo, a empresa quer a nossa alma.
Vivemos uma moratória ilimitada (outro conceito de Deleuze). Nunca quitamos nada, estamos sempre devendo. Devemos estudar, trabalhar e ser jovens para sempre, tudo isso ao mesmo tempo, já que envelhecer é quase indigno. Devemos ser produtivos, ter autoestima elevada, ser poderosos, elegantes, bem-sucedidos. Devemos ser felizes, e o que é ser feliz hoje? Não só hoje, mas o que é o "ser feliz" de cada época? "Ser feliz" não sempre foi um conceito relativo, individual, intransferível? Para a sociedade, com suas estruturas e expectativas para cada faixa etária, gênero e classe social, nunca foi, mas deveria ter sido.
Ainda deveria ser. E ainda pode ser, para aqueles que conseguem destrinchar as barreiras do senso comum, enxergar que o natural é quase sempre algo construído e pactuado socialmente, contra o qual é possível resistir.
Voltando à lista: pedir demissão de um emprego para se dedicar a um projeto pessoal, seja ele qual for, pode parecer loucura ou fraqueza, mas há um quê de revolucionário nessa atitude. Há a coragem de quem calou todas as vozes, internas e externas, que dizem que dinheiro nunca é suficiente, que poupanças devem sempre crescer, pois quem sabe do futuro, não é mesmo? Há a sabedoria de se usar o dinheiro que já se ganhou para ajudar a si mesmo (não é para isso que ele serve?), e de pedir ajuda, quando há quem pode ajudar. Há a satisfação de investir em algo que escolhemos, com retorno para nós exclusivamente, e não para um chefe, um prédio sem alma (vê? Já estou falando de investimento e retorno, é muito difícil sair da lógica do sistema, mas o primeiro passo é enxergá-la). Há a alegria de sonhar, e até de ter tempo para realizar.
É revolucionário recusar passar os dias inteiros de semanas inteiras preso em um lugar que não é seu, em todos os sentidos. Mas sabe o que eu acho? Deveria ser mais natural.
Dedico aos meus amigos que acham naturais muitas coisas loucas e loucas muitas coisas naturais. Às vezes, não se encaixar é algo bom.
Assinar:
Comentários (Atom)