Eu sofro aos domingos.
No último mês, eu me tornei uma amante do método. Todos os dias eu acordo no mesmo horário. Arrumo a cama. Não suporto ver bagunça na cozinha. Lavo a louça, coloco as roupas usadas no cesto, tudo na mais perfeita ordem. Faço minhas obrigações - é estranho chamá-las assim, pois são produtos de uma escolha. Tenho horários para comer e até para as diversões. A novela das 23h é um dos momentos mais queridos do dia. Durmo um sono tranquilo, pelo tempo necessário, nem mais, nem menos.
E assim é a minha semana, com dias meticulosamente iguais. Eu, que sempre vi na desordem uma certa poesia, já que a associava à liberdade. Que odiei rotinas antes mesmo de tê-las. Que desconheço a presença de Virgem no meu mapa astral, em que predomina uma deliciosa mistura da distração crônica pisciana e do fogo impaciente de Áries. De surpresa me vejo livre no método, hoje é assim.
Nesse ciclo simples e doce, a melancolia vem aos domingos, quando tenho dores de cabeça e no coração. Hoje, depois de ler sobre as identidades culturais na pós-modernidade, de Stuart Hall, ler Marjane Satrapi foi como ver a teoria materializada em uma vida. Identidades fragmentadas, o "estrangeiro familiar". Somos todos nós, os globalizados. É Marjane, uma ocidental no Irã e uma iraniana no ocidente. E eu chorei pelas mulheres e homens do Irã, que não conheço. Pelas idiotices que fazem tantas pessoas matarem outras e por nos machucarmos tanto, em todo o mundo, em todas as épocas. Já estava triste, pelas injustiças da minha vida, pelas decepções com as pessoas. Eu chorava por mim, por tudo que sofreu a Marjane, por tudo que sofrem tantos, ou todos.
Já está quase na hora de dormir. Amanhã é segunda-feira, - estranho dizer isso - um dia de alegria.
Prefiro assim.
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