domingo, 14 de outubro de 2012

Eu só queria um namorinho de portão
(Tati Bernardi)

Não, você não precisa ter o abdômen do mocinho da novela, afinal eu adoro meus peitos naturais que se mexem de leve quando eu corro e desaparecem um pouco quando eu emagreço demais. Acho até que posso ficar com sua barriga pra sempre, mas já faz tempo que não acompanho nem uma semana seguida de nenhuma novela.
Eu não quero que você me busque num superpotente carro, eu só quero que quando você me beije, eu não deseje mais nenhuma força do universo. Estou pouco me lixando se o restaurante tem várias cifras no "Guia da Folha", mas gostaria muito que a gente esquecesse das mesas ao lado e risse a noite toda; eu até brindaria com água sem bolhinhas.
Sério que tem uma pousada megamaster com ofurô em cima da montanha e charretes cor-de-rosa que trazem o café da manhã? Dane-se, se você conseguir passar, nem que seja algumas horas, encantado pela gente, essa será a maior riqueza que eu poderei ganhar. 
Sim, a tecnologia é mesmo fantástica, só que hoje eu queria sumir com você para um lugar onde não pegasse o celular, não pegasse a internet, não pegasse a televisão, mas que a gente, em compensação, se pegasse muito.
Sim, sim, música eletrônica é demais, celebrar a vida com os amigos é genial, pular bem alto é sensacional. Mas será que a gente não pode colocar um Cartola bem baixinho na vitrola e dançar sozinhos no escuro, só hoje? Será que a gente não pode parar de adjetivar o mundo e se sentir só um pouco?
Eu procuro você desde o dia em que nasci; não, eu não dependo de você nem para andar, nem para ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado.
Só que estamos com um problema: vai ser um pouco difícil a gente se conhecer porque tenho evitado sair de casa.
Eu não odeio mais as garotas em série e seus namorados em série, eu não odeio mais a sensação de que o mundo está perdido e as pessoas lutam todos os dias para se parecerem ainda mais com o perdido ao lado, se perdendo ainda mais.
Eu não odeio mais quem cuida do corpo mas esquece da alma, quem cuida do cabelo mas esquece da mente, quem cuida da superfície mas faz eco por dentro, quem coloca um peito de silicone mas esquece de dar mais uma chance ao amor.
Eu não odeio mais a galera feliz em pertencer a um mesmo barco que não vai a lugar nenhum. Eu só acho isso tudo muito triste e prefiro não ver. Eu prefiro não fazer parte da feira que compete pra ver quem tem a casca mais bonita.
Voando eu sei que você não vem, até porque eu jamais namoraria um super-homem: tenho horror a pessoas falsamente infalíveis.
Não quero um homem que sempre vença, que sempre impressione, que sempre salve e sorria impecável em dentes brancos e músculos ressaltados por um collant com as cores da bandeira americana.
Você pode ter medo de monstrinhos imaginários e dormir com a porta trancada; pode ficar meio tristinho quando, numa festa cheia de amigos, lembrar que é sozinho no mundo; pode perguntar assustado no meio da noite "aonde você vai?" mesmo sabendo que é só um xixi; pode até fazer piada com o seu medo de estar vivo; e pode, inclusive, ficar sério e quieto, de repente, por causa disso também.
Não existe Orkut, não existe Messenger, não existe celular, não existe um supercelular que é máquina fotográfica, Orkut e Messenger ao mesmo tempo. Não existe o décimo quarto andar do meu prédio com oito seguranças lá embaixo. Não existe a balada perfeita com 456 garotas iguais e programadas para te dar um amor levemente inexistente. Não existe esperar que a vida fique mais compacta, mais veloz, mais completa e mais fácil, assim como o computador.
Existe essa coisa simples, antiga e quase esquecida pela possibilidade infinita de se distrair com as mentiras modernas do mundo. Existe o amor, mas onde ele foi parar depois de tudo isso?
Eu não tenho um portão para te esperar, como minha avó um dia esperou pelo meu avô e eles ficaram juntos por setenta anos. Talvez eu também seja engolida por esse mundo que cria tantas facilidades para a gente não sofrer. Tenho medo de que tudo seja uma mentira e de verdade sinto que é, mas ainda acordo feliz todos os dias esperando que ao menos você seja de verdade.

sábado, 22 de setembro de 2012

"Here's the thing: I'll respect your boundaries, but just know that when we're together, whatever we're talking about, whatever we're doing, I'm thinking of kissing you."

Porque certos diálogos só séries adolescentes podem trazer para você.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Eu tinha sete anos e estava na segunda série. A festa junina se aproximava e a professora juntou todos nós no pátio. Diante das carinhas curiosas, ela disse que cada um deveria escolher seu par para a quadrilha. Silêncio total. Olhares nervosos. A tensão era enorme para aqueles miniseres humanos, diante de talvez uma de suas primeiras interações sociais daquele tipo - a que confronta homens e mulheres, desperta paixões e medos, vontades e vergonhas, amizades e disputas.

Notei a demora na resposta e as bochechas vermelhas e olhares vacilantes que me cercavam. Levantei o dedo.

- Eu escolho o Gustavo.

Todos olham para mim, como se pedissem uma explicação. Ora, se é necessário, lhes dou, com a maior naturalidade:

- Não chamam ele de fantasma? Então ninguém vai me ver com ele!

Sorrio, satisfeita comigo mesma. Aos poucos, os coleguinhas tomam coragem para escolher seus pares. Eu não presto atenção. Já tinha salvado o dia.

Outro dia, me lembrei disso. E, pela primeira vez, percebi que a turma toda deve ter pensado que eu gostava do Gustavo, inclusive o próprio. O mais engraçado é que essa questão nem passou pela minha cabeça, nem naquele dia, nem depois. Me apaixonei ainda mais pelo meu eu-criança, o ser mais livre que já conheci.

domingo, 29 de julho de 2012

Eu sofro aos domingos.
No último mês, eu me tornei uma amante do método. Todos os dias eu acordo no mesmo horário. Arrumo a cama. Não suporto ver bagunça na cozinha. Lavo a louça, coloco as roupas usadas no cesto, tudo na mais perfeita ordem. Faço minhas obrigações - é estranho chamá-las assim, pois são produtos de uma escolha. Tenho horários para comer e até para as diversões. A novela das 23h é um dos momentos mais queridos do dia. Durmo um sono tranquilo, pelo tempo necessário, nem mais, nem menos.
E assim é a minha semana, com dias meticulosamente iguais. Eu, que sempre vi na desordem uma certa poesia, já que a associava à liberdade. Que odiei rotinas antes mesmo de tê-las. Que desconheço a presença de Virgem no meu mapa astral, em que predomina uma deliciosa mistura da distração crônica pisciana e do fogo impaciente de Áries. De surpresa me vejo livre no método, hoje é assim.
Nesse ciclo simples e doce, a melancolia vem aos domingos, quando tenho dores de cabeça e no coração. Hoje, depois de ler sobre as identidades culturais na pós-modernidade, de Stuart Hall, ler Marjane Satrapi foi como ver a teoria materializada em uma vida. Identidades fragmentadas, o "estrangeiro familiar". Somos todos nós, os globalizados. É Marjane, uma ocidental no Irã e uma iraniana no ocidente. E eu chorei pelas mulheres e homens do Irã, que não conheço. Pelas idiotices que fazem tantas pessoas matarem outras e por nos machucarmos tanto, em todo o mundo, em todas as épocas. Já estava triste, pelas injustiças da minha vida, pelas decepções com as pessoas. Eu chorava por mim, por tudo que sofreu a Marjane, por tudo que sofrem tantos, ou todos.
Já está quase na hora de dormir. Amanhã é segunda-feira, - estranho dizer isso - um dia de alegria.
Prefiro assim.

domingo, 22 de julho de 2012

Em um dos meus diários quando eu era pré-adolescente, eu lembro de ter escrito um lembrete. Eu dizia que tinha medo que eu fosse reler aquele diário quando fosse mais velha e achar que eu era triste, porque eu não era. Eu era muito feliz e amava a minha vida, mas eu tinha mais vontade de escrever quando estava triste.
O mesmo vale agora. Eu já estive triste, mas a vida anda boa que só. Uma simplicidade deliciosa de se viver e os sonhos no horizonte. Mas hoje bateu algo que nem foi tristeza. É saudade.
Eu estou com saudade de amar. De beijos apaixonados. De e-mails e mensagens bonitas, apelidos e referências únicas de um casal. Eu estou ansiosa para viver tudo de novo e ao mesmo tempo fazer tudo diferente.
Nessas horas, é inevitável lembrar de quando você amou por último. E lembrei das partes boas, das felicidades e cumplicidades que foram quase apagadas por tudo de devastador e maligno que houve depois. Era bonito, e da minha parte era puro e verdadeiro. Eu senti saudades daquilo. Não do alguém, porque é inseperável do mal. Mas daquilo. De mim, do que eu senti, do que eu falei, do que eu toquei, escrevi, sorri, sonhei. Do que eu recebi, dei e compartilhei. Mesmo que seja tudo mentira e incompatível com o real. E o coração apertou de saudade. 
A vida é boa, e eu aprendo cada dia tanta coisa que só me dá mais vontade de ler, de ver, de conhecer, de estudar, de viajar. Eu quero algum dia esbarrar em alguém assim também. Alguém que também tenha lá suas saudades. Não de alguém, mas do amor.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O shopping no dia 11 de junho estava diferente. Havia homens por toda parte. Homens em grupo, sozinhos, espalhados por lojas de mulher, confusos com tamanhos e modelos, amparados por vendedoras interesseiramente simpáticas e solícitas. Em busca do presente perfeito, ou nem tanto assim, para o  Dia dos Namorados.
Na bancada de bijouterias, um adolescente comprava um brinco. Atrapalhado, juntando notas de dinheiro, escolheu um que numa orelha formava um "lo", e na outra um "ve". O brinco mais feio que eu já vi. Mas minha intuição diz que a namorada abrirá um sorriso e se sentirá a menina mais sortuda do mundo. Porque aquele menino, que não entende nada sobre tendências da moda (e, me arrisco a dizer, sobre mulheres como um todo), escolheu um presente que expressasse algo que ele conhece, por causa dela. Tudo é novo e muito ele ainda não entende sobre esse sentimento. Metáforas não servem, ele precisa da palavra pura e simples. Love.
O amor adolescente é brega, exagerado e, na maioria das vezes, finito. Mas sempre vai me comover.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

"No meu ponto de vista (e por experiência), estar "fora de lugar", ao menos em parte do nosso ser, não concordar completamente, manifestar divergência e dissensão, é o único meio de resguardarmos nossa autonomia e liberdade. Estar "dentro" mas parcialmente "fora" é também um meio de preservar o frescor, a inocência e a abençoada ingenuidade de visão. Quem está assim situado tende a fazer perguntas que não ocorreriam àqueles estabelecidos mais solidamente; tende a notar o estranho no familiar, o anormal no óbvio."

Zygmunt Bauman


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dia desses, O Globo Online publicou uma lista com 20 estranhos motivos para se pedir demissão. Trabalhar no circo,  aprender a tocar trombone, plantar maçãs e dificuldade para acordar cedo (achei digno) estavam na lista. No mínimo pouco convencional, ela me fez pensar em algo que venho pensando diariamente, com meus botões ou com meus amigos, em e-mails e almoços, os poucos respiros que temos dentro da prisão das oito horas diárias: não somos obrigados a nada.
A sociedade de controle, apelidinho querido para a nossa sociedade insana (quer dizer, um conceito do filósofo francês Gilles Deleuze), é regida pela lógica da empresa. Vivemos os tempos do empreendedorismo. Falamos em investimentos o tempo todo: investimos em filhos, investimos em nós mesmos, investimos em relacionamentos, e ficamos chateados quando esses investimentos não dão o lucro esperado e perdemos tempo, a moeda corrente da sociedade de controle. A empresa está em nós 24 horas, trabalhamos em casa, pensamos na empresa até dormindo, somos a empresa nas redes sociais, ela está na construção da nossa identidade, em nossas relações. Não mais o corpo, a empresa quer a nossa alma.
Vivemos uma moratória ilimitada (outro conceito de Deleuze). Nunca quitamos nada, estamos sempre devendo. Devemos estudar, trabalhar e ser jovens para sempre, tudo isso ao mesmo tempo, já que envelhecer é quase indigno. Devemos ser produtivos, ter autoestima elevada, ser poderosos, elegantes, bem-sucedidos. Devemos ser felizes, e o que é ser feliz hoje? Não só hoje, mas o que é o "ser feliz" de cada época? "Ser feliz" não sempre foi um conceito relativo, individual, intransferível? Para a sociedade, com suas estruturas e expectativas para cada faixa etária, gênero e classe social, nunca foi, mas deveria ter sido.
Ainda deveria ser. E ainda pode ser, para aqueles que conseguem destrinchar as barreiras do senso comum, enxergar que o natural é quase sempre algo construído e pactuado socialmente, contra o qual é possível resistir. 
Voltando à lista: pedir demissão de um emprego para se dedicar a um projeto pessoal, seja ele qual for, pode parecer loucura ou fraqueza, mas há um quê de revolucionário nessa atitude. Há a coragem de quem calou todas as vozes, internas e externas, que dizem que dinheiro nunca é suficiente, que poupanças devem sempre crescer, pois quem sabe do futuro, não é mesmo? Há a sabedoria de se usar o dinheiro que já se ganhou para ajudar a si mesmo (não é para isso que ele serve?), e de pedir ajuda, quando há quem pode ajudar. Há a satisfação de investir em algo que escolhemos, com retorno para nós exclusivamente, e não para um chefe, um prédio sem alma (vê? Já estou falando de investimento e retorno, é muito difícil sair da lógica do sistema, mas o primeiro passo é enxergá-la). Há a alegria de sonhar, e até de ter tempo para realizar.
É revolucionário recusar passar os dias inteiros de semanas inteiras preso em um lugar que não é seu, em todos os sentidos. Mas sabe o que eu acho? Deveria ser mais natural.

Dedico aos meus amigos que acham naturais muitas coisas loucas e loucas muitas coisas naturais. Às vezes, não se encaixar é algo bom. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Hoje eu sonhei que me casava.
Com uma aliança barata, bijuteria prateada, sem graça, sem nada.
Eu comprava um apartamento clicando meio sem querer em um botão na internet. Era em um lugar bom até, na Tijuca, mas não no local que eu escolheria. Mas enquanto pesquisava e pensava, me distraí e cliquei no botão. Tinha um segundo andar onde eu planejava, com um fingido entusiasmo que dava pena, um bar e um espaço pra festas, e um cantinho onde o sol batia à tarde, onde dava uma piscina.
E no dia seguinte eu estava em desespero, porque eu não queria ter me casado. A aflição era tão grande que parecia que ia explodir o peito. Eu chorava e dizia para a minha mãe que não queria ir para o novo apartamento, que não queria estar casada. Uma sensação de prisão sem fim, olhando para aliança. Até que eu pensei: eu posso terminar. Não interessa que me casei ontem, não interessa que comprei um apartamento, eu vendo, eu desmancho tudo, ninguém pode me obrigar. Peço até anulação do casamento para o Papa. Isso! Assim posso me casar de novo na Igreja. Não que seja fundamental, eu quero amor e só, mas sempre quis casar na Igreja, e aí eu poderia, de novo. Não tivemos nada depois desse casamento mesmo, antes sim, mas depois... é isso! Separar, desfazer, anular, antes que comece.
E a cena corta para o casal da novela Avenida Brasil, Jorginho e Débora, em duas motos subindo uma pista vertical que vai para o céu, como se fosse um pé-de-feijão, de espessura fina como papel. Mas o Jorginho curva a moto para baixo antes de chegar ao fim da pista, e a Débora cai e se espatifa no chão. A voz dela, acidentada, machucada, fala com desespero: eu avisei que você tinha que ir comigo até o final, ou eu ia me machucar!
Volta para mim. Tudo, menos ir para aquele apartamento. Desespero. Prisão. Ando em círculos, coração explodindo.
O despertador toca. Tive dificuldade em sair do sonho, mas quando vi que não tinha aliança, senti um alívio tão grande, talvez o maior dos tempos em uma segunda-feira, cedo demais. Nada daquilo tinha acontecido. Eu estava livre.

Engraçado é que já quis me casar com essa pessoa, mais que tudo nesse mundo. Nessas horas, sinto falta de fazer terapia. Esse é o tipo de sonho que faz a gente sentir, e esses sempre me intrigaram.

sábado, 5 de maio de 2012

Ando procurando uma música que traduza o que estou sentindo.
Não é tristeza, também não é alegria.
Às vezes é um medo incontrolável, que me tira o sono.
Ou um cansaço tão grande que me tira a voz.
Uma vontade enorme, que me enche de adrenalina e sonhos.
Acho que eu queria só ficar sentindo tudo isso. Não estou para conversas, não consigo falar sobre isso, não consigo falar sobre outra coisa.
A vida continua acontecendo, as obrigações continuam lá e a minha cabeça e o meu coração estão em outro lugar. Que é muito mais meu.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tempo ou dinheiro?
Fazer o que amo e não ganhar nada por isso ou fazer o que não amo e ganhar um pouco por isso?
Dinheiro ou tempo?
Investir nos meus projetos pessoais ou vender minha força de trabalho para projetos de outros?
Todos os dias, o dilema acorda junto com o despertador e deita no travesseiro comigo de noite.
Amanhã tem mais.

domingo, 29 de abril de 2012

Fui limpar minha pasta de documentos no computador e achei algumas conversas de msn. Passei os olhos em alguns parágrafos soltos e apaguei, sem pensar duas vezes.
É estranho. Ler a capacidade que eu um dia tive de amar alguém, naquelas proporções.  Eu não consigo sentir aquelas emoções, nem lembrar como era. Parece uma outra pessoa.
Minha cabeça e meu coração estão hoje mergulhados em outros planos. Todos os meus desejos, sonhos, medos, todo o meu pacote de sentimentos, e toda a minha força, determinação, todas as minhas melhores características estão imersas em outro campo.
E de repente eu percebo que não me sinto nem um pouco capaz de amar alguém de novo assim. É uma entrega que não estou disposta a dar. Eu achava que era medo, mas ando descobrindo que é falta de vontade mesmo. Mais coerente. Sou muito mais movida pelo desejo do que pelo medo. E meu desejo hoje envolve algo completamente diferente.
É triste, eu acho. Tudo isso.
Mas tempo para esse tipo de tristeza não tenho mais.
Tenho que ir para onde o meu coração está. Eu gosto desse lugar.

domingo, 22 de abril de 2012

"Você está anos-luz à frente dele, Tati."
Milhares de amigos me disseram isso milhares de vezes. Até fazia sentido, mas ainda era uma coisa meio contraditória para mim. Até eu ver isso materializado em algo que eu conheço bem, o meio de expressão da minha subjetividade desde criança, o meu objeto de trabalho, o meu espaço de construção de identidade neste mundo: um texto. Não foi um texto dele, foi da nova namorada. E ler aquele amontoado de clichês em um fragmento sem coerência, com erros de concordância, me fez rir e me fez entender, séculos depois, o que não entendi na época: ele precisa de alguém pior do que ele.

Eu tenho um quê de professora em mim,  tenho imensa satisfação em ajudar alguém a crescer. E assim, eu assisti à transformação de algum idiota que nunca prestou atenção à aula na escola para alguém que de repente queria aprender tudo, ler livros, entender e pensar a sociedade. Não só assisti. Eu impulsionei essa transformação, talvez até a tenha causado. Eu mostrei caminhos, eu estava ali pronta a dar uma estrelinha de parabéns a cada pequeno aprendizado.

Eu estava feliz assim. É estimulante ver um aluno crescer. Mas, a professora tinha se tornado muito grande para ele. Ele precisava se sentir maior. Mas aí eu penso: por que procurar alguém menos inteligente? Não faz sentido. Quanto mais eu aprendo, estudo e cresço, mais eu quero alguém mais inteligente, que me acrescente mais.

E lendo Bauman, eu percebi que enquanto o aluno se afundou na mediocridade de querer ser grande dentro de uma localidade, a professora cresceu e se globalizou. Aquele mundinho e suas relações de poder ficaram pequenas para ela. Ao invés de se sentir inferior, por não ter encontrado ali seus pares, ela percebeu que não encontraria mesmo, pois sua existência é muito maior, não cabe ali. Aquele mundinho se tornou insuficiente na produção de significados.

E eu ri, porque eu escrevo melhor, eu penso mais profundamente, eu articulo mais ideias, eu questiono mais. Para cada um nessa vida importam coisas diferentes. Não digo que ela é necessariamente pior do que eu por causa disso, com certeza tem muitas outras qualidades, físicas e emocionais, que importam mais para outras pessoas. Mas se o que importa neste mundo é a minha visão e o meu desejo, para mim, ela é pior do que eu. Porque dentro do que eu procuro em alguém, eu tenho muito mais do que ela. E se ele prefere ela, dentro da minha visão - a que importa - eu também tenho muito mais do que ele.

É uma característica minha racionalizar tudo o que vivo e o que já passou. Assim, cada vez mais tenho clareza do meu desejo e do que quero do meu presente e do meu futuro. E o sentimento de hoje é: eu amo ser assim. E eu amo escrever. Eu amo que seja com as palavras o meu dom neste mundo.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Como se termina um relacionamento? E por relacionamento eu me refiro também aos casinhos, qualquer relação pseudoamorosa entre duas pessoas que envolva segundos encontros e possíveis mensagens de celular.

Levar um pé-na-bunda é, no mínimo, desagradável. Não importa a intensidade do desejo, é sempre uma cutucada na autoestima, um gosto amargo na boca.  Quando envolve a decepção de um grande amor, frequentemente leva a depressão e traumas profundos. Por isso, uma mulher que já foi dispensada não deseja que o outro sofra tudo aquilo que já experimentou. Com exceção do ex-namorado maldito que a fez sofrer, claro. As mais boazinhas invocam o altruísmo e classificam a experiência como um aprendizado terapêutico que o malandro precisa, as vingativas querem simplesmente revanche, mas a verdade é que todas as mulheres fantasiam o dia em que passarão com elegância ao lado da sarjeta em que o sujeito vai se meter um dia, se é que há justiça no mundo.

Mas sempre tem aquele menino legal, que não fez nada de errado, exceto uma coisa: não fez seu coração palpitar. E aí? A primeira receita nesses casos é ser fria até ele entender e deixar tudo em um tratado não escrito. Assim como aquele menino superlindo que você conheceu e estava completamente na sua, até de repente não estar mais, fez com você. Você gostou? Não. Você com certeza disse para os seus amigos que odeia pessoas que somem sem dar explicações e desistiu dos relacionamentos pela milésima vez. Mas aí, quando você precisa terminar, você começa a se questionar se assim não é melhor. Se não for assim, o que você faz? Manda um e-mail? Telefona? Faz a pessoa reservar um sábado da vida dela, um dia tão precioso e raro, para te ouvir dizer que você não quer mais? Assim parece mais humano?

É bastante difícil ouvir de alguém "eu não amo mais você", especialmente quando você ainda ama. Nesses casos, quando há amor e história envolvidos, não existe a opção de não conversar, de não dizer verdades ou mentiras dolorosas. Eu sei que julgam a minha geração como superficial e baseada em relações rasas e efêmeras, mas quando você tem a opção de não dizer ou não ouvir certas coisas, talvez seja melhor ficar subentendido. Pelo bem de todos.

Talvez eu discorde de mim mesma amanhã. É só um pensamento que me ocorreu.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Eu nunca liguei muito para o Dia da Mulher, confesso. Talvez porque ele aconteça dois dias antes do meu aniversário e eu sempre estranhe os parabéns "antecipados" e leve alguns segundos para entender do que as pessoas estão falando.

É engraçado como esse ano esse dia tomou uma proporção diferente para mim. Isso aconteceu depois de ter sido vitimada pelo machismo, de ir elaborando aos poucos o quanto o preconceito contra a mulher está arraigado na sociedade, em regras que ninguém escreveu. Foi depois de ter começado uma verdadeira luta diária contra todo e qualquer tipo de machismo. Não é uma luta militante, e muitos podem julgar fútil, mas é muito minha.

A minha luta é no cotidiano, nas relações entre homens e mulheres, a minha luta é contra um senso comum que me irrita e me enoja. Eu luto para acabar com esse joguinho de submissão enlouquecedor a qual todas as mulheres precisam se submeter nos relacionamentos amorosos. Eu conheço as regras, e tenho certeza que você conhece."Não seja fácil demais, homem gosta da conquista. Espere ele ligar. Não transe no primeiro encontro." A lista é infinita e meticulosa, essas são só as regras de ouro.

A minha luta é para que as mulheres sejam elas mesmas e façam o que tenham vontade. Eu tenho amigas que são difíceis por natureza. Demoram a confiar, a admitir que estão apaixonadas, são tímidas, fechadas. Assim, tudo bem. O problema é não ser assim e criar esse personagem para agradar aos homens. O problema é usar sexo como prêmio por bom comportamento. "Não dê a ele o que ele quer tão fácil." E o que ela quer, importa?

Eu luto de um modo bem discreto, eu diria até ineficaz. Eu simplesmente me recuso a fazer parte do joguinho.  Eu sou transparente, sou despachada, demonstro interesse. Ao menor sinal de machismo, eu desapareço sem dar explicação. E já ouvi muitos por aí, como "não suporto essas meninas vulgares que dançam até o chão, menina tem que ser meiga" e "meu filho pode namorar, minha filha não". Já chega tudo o que ouvi, toda a violência verbal e psicológica de pessoas desequilibradas, inseguras, idiotas.

Eu ouço por aí o quanto os homens valorizam aquelas que fazem o estilo menininha (seja ele verdadeiro ou não). Eu só sorrio, continuo sendo eu mesma e espero encontrar alguém que deseje uma mulher engraçada, metida a independente, completamente espontânea, muito boa em demonstrar o que sente e deseja e não tão  boa assim com a história de fazer mistério. De repente, tem alguém assim por aí.